Estagnação ainda é o maior medo da economia portuguesa

Jan 19, 2022 0 comment(s)

O rectângulo à beira-mar plantado que responde pelo nome de Portugal é o único país da Europa Ocidental e um de apenas quatro da União Europeia em que os líderes empresariais apontam a estagnação económica prolongada como o maior risco nos próximos dois anos.

Do relatório “Global Risks Report 2022”, revelado nesta semana pelo Fórum Económico Mundial, resulta claro que Portugal só é acompanhado por Grécia, Croácia, Finlândia e pela extracomunitária Moldávia nos países europeus que elevam a incapacidade de manter um nível de crescimento económico compatível com o seu potencial ao topo das inquietações. Isso sucede sobretudo em economias de outros continentes, como a Ásia (é o caso de Japão, Singapura e Filipinas), a América (Argentina e Chile) e a África (África do Sul), e num momento em que os fracassos na acção climática, as desigualdades no acesso ao digital e as ameaças à cibersegurança dominam os receios de curto prazo de líderes empresariais de vários dos maiores parceiros de Portugal, tal como ficou patente na 17.ª edição do relatório anual, a cabo da consultora Marsh e do grupo segurador Zurich.

Em declarações ao NOVO, Fernando Chaves, risk specialist da Marsh Portugal, considera que o grau de preocupação com a estagnação económica detectado em Portugal “aponta para o facto de os nossos líderes terem especial noção da fragilidade do tecido empresarial português e de este depender de algumas indústrias em particular, nomeadamente a do turismo, não se esperando que as mesmas retomem a níveis como os vividos até 2019 nos próximos anos”.

Com o tema da ultrapassagem de Portugal por quatro outros países da União Europeia no que toca ao produto interno bruto (PIB) per capita a entrar na pré-campanha para as legislativas de 30 de Janeiro, esse receio que os líderes empresariais admitem ter da estagnação poderá constituir um sinal de que estarão receptivos a mudanças significativas na condução da política económica? “Acreditamos que os empresários e gestores não só estão receptivos como esperam alterações de fundo que promovam uma maior resiliência da nossa política económica, e não apenas a resposta aos problemas de curto prazo, para que em futuras crises sejamos capazes de responder rapidamente e aproveitar ainda mais as oportunidades que sempre surgem”, defende Fernando Chaves.

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Além da prolongada estagnação económica - que em Espanha aparece como o segundo maior risco na perspectiva de curto prazo, mas acaba por ser desvalorizada na maior parte da União Europeia -, o top-five de preocupações dos líderes empresariais portugueses completa-se com a crise da dívida nas maiores economias, a crise da empregabilidade e condição de vida, a desigualdade no acesso ao digital e o colapso do sistema de segurança social. Para o risk specialist da Marsh Portugal, “são riscos associados à realidade de uma economia menos resiliente e que, depois da crise de 2008-09, procurava, antes da pandemia, recuperar terreno e prosperar, tirando partido das suas principais valências”, incluindo o turismo e a capacidade de acolher centros de serviços partilhados.

Por seu lado, o chief risk officer da Zurich em Portugal, Edgar Lopes, afasta a ideia de que as maiores preocupações em Portugal estejam relacionadas com assuntos “menos modernos” do que os prevalecentes noutros países. “Depois de quase dois anos de pandemia, é natural que a retoma da economia e os seus impactos directos sejam um tema que preocupe os líderes portugueses”, refere ao NOVO, acrescentando que isso “acaba por ser também um reflexo de alguma instabilidade política que vivemos actualmente em Portugal.”

Alheados do ambiente?

Com o “Global Risks Report 2022” a apontar o fracasso da acção climática como a maior ameaça a nível mundial tanto a médio (dois a cinco anos) como a longo prazo (de cinco a dez) - sem falar que ainda existe o “elefante na sala” que é a pandemia -, Portugal destoa ao deixar esse e outros riscos associados ao ambiente, como os fenómenos climáticos extremos, de fora das preocupações imediatas dos seus líderes empresariais.

Face a essa “ausência total dos riscos ambientais”, Edgar Lopes, salienta não acreditar que “ainda não estejamos cientes” do que está em causa, “até porque todos os dias ouvimos os cientistas falarem de Portugal como um hot spot das alterações climáticas”, enfrentando eventos extremos com regularidade desde 2010 e conhecendo os impactos económicos e sociais resultantes.

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